O que podemos aprender com este e outros exemplos
No início deste ano, Oprah Winfrey, apresentadora de um dos programas mais famosos da televisão lançou um desafio entre seus funcionários: seguir uma alimentação vegana (isenta de carnes, ovos, leite e derivados) durante uma semana. Enquanto muitos funcionários estavam relutantes em mudar seus hábitos alimentares, outros 378 se inscreveram para o “Vegan Challenge”.
Uma das histórias mais interessantes veio do editor Rich, que antes do desafio estava tomando 6 a 8 antiácidos por dia e sofria de enxaqueca. Durante a semana vegana, consumiu bem mais vegetais e os grãos integrais substituíram os carboidratos simples. Rich perdeu cerca de cinco quilos. “No terceiro dia estava me sentindo melhor do que nos últimos 10 anos”, relatou o editor.
Até o final da semana, 300 dos 378 funcionários que se inscreveram no desafio conseguiram terminá-lo com êxito e juntos perderam cerca de 200 quilos. Grande parte dos funcionários que aceitaram participar não se tornaram inteiramente veganos, mas afirmaram terem mudado a maneira como pensam sobre a alimentação.
Em 2008, Oprah realizou uma ação parecida e seguiu por 21 dias uma dieta destoxificante vegana. Em seu site (http://www.oprah.com/), podemos ver o relato sobre a experiência:
“Durante três semanas, eu (que raramente como ovos) fiquei obcecada por não poder comer um omelete. Queria comer queijo diariamente. Mas eu também tive refeições surpreendentemente deliciosas sem um traço de carne. Ou produtos lácteos! No final dos 21 dias, eu não me declarei vegana ou mesmo vegetariana. Mas eu sou, com certeza, mais consciente nas minhas escolhas. Estou comendo uma dieta muito mais rica em vegetais e menos alimentos processados. Penso sobre o consumo de açúcar e de gordura, não somente em termos de calorias, mas em relação ao que acontece com o meu bem-estar.”
As dietas vegetarianas e veganas podem ser eficazes na prevenção e no tratamento de diversas doenças crônicas (1). No entanto, sua aceitação fora do ensaio clínico não tem sido extensivamente estudada. Com esse intuito, pesquisadores publicaram um estudo em 2010 sobre o poder de aceitação de um programa de reeducação alimentar vegana e suas repercussões na saúde e produtividade dos funcionários (2).
Os autores selecionaram funcionários de uma empresa de seguro nos Estados Unidos com sobrepeso ou com diagnóstico prévio de diabetes mellitus do tipo 2. Durante 22 semanas, os participantes foram separados em dois grupos, no qual o primeiro com 68 pessoas recebeu instruções semanais para seguir uma dieta vegana e outro grupo de 45 pessoas seguiu a alimentação normalmente.
O grupo vegano relatou melhoras estatisticamente significativas no estado geral de saúde, desempenho físico, saúde mental, vitalidade e satisfação global da dieta em comparação ao outro grupo. O grupo vegano também apresentou diminuição nos custos de alimentos, mas uma maior dificuldade em encontrar alimentos na hora de comer fora. Tiveram uma diminuição de 40 a 46% em prejuízos relacionados com a saúde no trabalho e atividades diárias normais.
Com esses exemplos, verificamos uma boa aceitação entre os participantes, o que é muito importante. Precisamos nos certificar de todos os complexos fatores que estão envolvidos e não devemos generalizar os resultados a qualquer população. No entanto, não podemos deixar de destacar os resultados positivos obtidos nesse âmbito, demonstrando que possivelmente um programa de reeducação alimentar vegano pode ser implementado para melhorar a saúde, qualidade de vida e produtividade no trabalho dos funcionários.
1. Craig WJ, Mangels AR; Position of the American Dietetic Association: vegetarian diets. American Dietetic Association.J Am Diet Assoc.; 109(7):1266-82., 2009.
2. Katcher HI, Ferdowsian HR, Hoover VJ, Cohen JL, Barnard ND. A worksite vegan nutrition program is well-accepted and improves health-related quality of life and work productivity. Ann Nutr Metab; 56(4):245-52, 2010.